sábado, 27 de fevereiro de 2010

Entrou no restaurante de esquina com sua caixa de engraxate e se sentou no balcão.
Todos viram, mas emularam.
Dois amigos chegaram e se sentaram ao seu lado.
O balconista quis saber: quê vocês querem?
Um dos amigos que havia chegado respondeu "uma coca, pra cada um".
Pagou, foi embora, e o engraxate, com a sua lata fechada na mão, continuou alí, olhando para a chapa do chapeiro.
Uma coca-cola não seria o suficiente.

Louco na rua

Era meio-dia e ele pintava a parede do prédio com um rolo de tinta preso por uma aste bem alta.
Subindo a rua, descalço e com as roupas rasgadas, um pote de plástico vazio na mão, resolveu soltar do meio de sua barba não-feita e suja sua indignação: "já não falei que era pra você pintar aquele outro lado do prédio?".
O pintor olhou e não deu ouvidos.
A fila que esperava na calçada para entrar no restaurante de comida natural riu.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Estava sentado com o olhar fixo e as costas curvadas, uma garrafa d'água ao seu lado quase vazia.
Com certeza hoje não vira a luz do sol: dormiu o dia todo pois não havia sentido em acordar (e ontem não havia sentido em dormir).
Para tentar quebrar a rotina, fixou o olhar na luz,
Mexeu os dedos e clicou em
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mudança de rumo

Entrou no ônibus pagando a passagem:

"Muito bom dia, minha gente. Eu venho aqui hoje, eu acabo de sair do Hospital das Clínicas onde minha filha está internada, ela teve tumor e não pôde amamentar minha neta. Eu vim pedir pra vocês uma ajuda para comprar o leite dela. A mãe dela não pode amamentar e o médico mandou tomar o leite em pó do tipo 1, e assim que ela estiver com mais idade, então vai passar para o tipo 2.
Eu trabalho como catador de papelão e ganho vinte e cinco reais por dia. Agora não estou trabalhando para poder comprar as latas de leite pra minha neta.
Eu só queria pedir pra vocês uma ajuda. Qualquer coisa serve, aquilo que puder dar já ajuda, e Deus não vai deixar faltar nada pra vocês".

Ele passou arrecadando. Não havendo mais ninguém, ficou parado perto da porta esperando o ônibus parar.
Uma velha, de óculos escuros, que estava ao lado do homem, deve ter ficado envergonhada de não ter ajudado o pobre homem que estava ao seu lado esperando para descer, pois o chamou e abriu a bolsa.

"Obrigado, senhora. Mas o que é isso?" Apontou para uma mancha branca abaixo do pescoço da senhora.

"É vitiligo", e parou de olhar o pobre homem, que prosseguiu:

"É um pouco estranho, mas não passa. Tem gente que tem medo de relar, mas não passa".

A velha só respondeu com um "Uhum" sem nem olhar para o homem.



/////// BONUS TRACK -> Rogério Skylab - Jesus