terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pra dormir

- Moço, você não pode dormir aí.
A garçonete do restaurante vegetariano sorri preocupada pro mendigo que, sem graça, pede desculpas, se levanta e vai pegando sua coberta e seu papelão.
De longe outro mendigo grita:
- Joga água nele! Joga água nele!
A garçonete, já na porta do estabelcimento olha e sorri meio sem jeito:
- Não, não vou jogar água não.
O outro mendigo continuou sua procura por um lugar pra dormir.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Seus males espanta

Enquanto eu tocava a gaita ele apareceu na minha frente, parado, mudo, preto e com os músculos pequenos mas definidos. Segurava a camisa com as mãos e, com os dedos fazia um movimento de alguém que limpa uma poeira sobre o ombro.
Fiquei assustado com a forma com que ele me olhava profundamente, sem piscar ou mexer a cabeça. Para não demonstrar medo eu comecei a assoprar e puxar minha gaita, dando continuidade à música alegre que estive tocando até então.
Ele fechou os olhos e bambeou a cabeça para trás, mexeu as pernas, mexeu os braços, dedilhou na sua camiseta suada e começou a levantar os braços e a rebolar ao som do blues.
Aquilo tudo foi muito estranho.
Por fim, ele agradeceu com um grunhido estranho e foi incomodar os passantes.